Módulo de capacitação 1

Património, Comunidade e Território

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TM1: Património, Comunidade e Território

Conteúdo

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Introdução

Orientações do Módulo para o Usuário

Este Módulo de Formação apresenta um enquadramento conceitual geral para os módulos seguintes, de maneira a alcançar um consenso referente aos conceitos e teorias sobre os Ecomuseus contemporâneos. O módulo possui três unidades, cada uma delas focada em questões específicas sobre Património, Comunidade e Território. Inicia-se com um apanhado histórico sobre o desenvolvimento conceitual dos ecomuseus na década de 1960, apresentando exemplos práticos para compreender o ambiente sociopolítico e econômico relacionado ao surgimento de novas teorias e experiências. A segunda unidade concentra-se no papel social dos museus de acordo com abordagens sociomuseológicas. A terceira unidade traz exemplos contemporâneos de ecomuseus orientados para a vida, de modo a inspirar a abordagem prática desenvolvida nos seguintes módulos.

Visão Geral do Módulo

Um conjunto de questões sociopolíticas alimentou o desenvolvimento conceitual dos ecomuseus na década de 1960, observado nas mudanças na compreensão tradicional dos museus: da noção tradicional de museu de “edifício + acervo + visitantes” para a ideia dos ecomuseus de “território + património + populações”. A dinâmica histórica dos anos 60 alargou a compreensão do património e dos museus, destacando questões relacionadas com o património imaterial, o património natural, a comunidade, a coesão social, a sustentabilidade e o desenvolvimento territorial. Este módulo começa com uma discussão histórica sobre o desenvolvimento conceitual de ecomuseus, abordando questões contemporâneas para facilitar o desenvolvimento e a implementação de ecomuseus. O módulo está estruturado em três unidades, dedicadas ao património, comunidade e território. Eles facilitarão a compreensão conceitual e o desenho de estratégias para reconhecer a diversidade de contextos onde os ecomuseus podem ser desenvolvidos, considerando diferentes abordagens localmente e conectando-as a contextos mais amplos. O conceito de ecomuseus foi desenvolvido durante movimentos de contracultura desde a década de 1960 – contestando os museus imperiais e abrindo novas perspectivas relacionadas ao desenvolvimento local. A mesa-redonda de Santiago do Chile, em 1972, e a criação do Movimento Internacional para uma Nova Museologia (MINOM) convergiram no saber acadêmico, resultando em discussões recentes desenvolvidas sob o conceito de sociomuseologia – corrente de pensamento presente principalmente em contextos ibero-americanos. Este módulo irá alargar a discussão centrando-se nos três pilares principais dos ecomuseus: o património, o território e a comunidade. Os seguintes módulos conectarão a estrutura conceitual a perspectivas práticas.

Metas & Objetivos do Módulo

O objetivo deste módulo é oferecer uma abordagem conceitual sobre os ecomuseus a partir de casos específicos relacionados a desenvolvimentos sociopolíticos desde a década de 1960. Espera-se que este enquadramento geral encoraje os participantes a desenvolverem os seus próprios projetos e a partilharem experiências nos módulos seguintes.

Objetivo Geral:

Proporcionar aos participantes uma compreensão geral dos conceitos relativos aos ecomuseus, centrando-se na compreensão contemporânea do património, da comunidade e do território.

Objetivo Específico 1:

Compreender o percurso histórico dos conceitos de património e ecomuseus desde a década de 1960.

Objetivo Específico 2:

Compreender a dimensão social dos ecomuseus, relacionada com a resolução dos problemas das comunidades.

Objetivo Específico 3:

Reconhecer os ecomuseus como organizações e redes orientadas para a vida, ligadas ao desenvolvimento dos territórios.

Resultados de Aprendizagem do Módulo

  1. Os participantes mapearam os antecedentes históricos das estruturas conceituais do ecomuseu;
  2. Os participantes compreenderam as possibilidades de diversas abordagens para ecomuseus com base em suas geografias e bens culturais;
  3. Os participantes melhoraram as suas capacidades para realizar análises contextuais e diagnósticos culturais para o desenvolvimento de iniciativas práticas nos módulos seguintes;
  4. Os participantes apresentaram uma compreensão clara sobre ecomuseus, considerando seus entendimentos teóricos, a diversidade de experiências observadas em diferentes regiões e as possibilidades de conceber projetos baseados em recursos locais e voltados para o desenvolvimento sustentável.
Unidades de Aprendizagem 1

Compreendendo o Património: uma abordagem histórica, conceitual e institucional dos ecomuseus

Esta unidade irá apresentar o enquadramento conceitual do património e a sua relação com os ecomuseus. O que é património? Que tipologias definem o património nos dias de hoje? Como mapear e identificar localmente o património cultural? A unidade centrar-se-á em como pode uma interpretação ecomuseológica abordar o património cultural, definindo linhas de base para o desenvolvimento de projetos sustentáveis e debatendo documentos normativos internacionais que orientam as políticas de património cultural.

A seção começa com um debate conceitual sobre a compreensão contemporânea do património. Em seguida, é apresentada a abordagem dada pelos ecomuseus ao património, discutindo questões relacionadas com a comunidade, o ambiente e o território (Davis, 2011; Rivière, 1985; Varine, 2017; 2006; 2002). Uma série de documentos internacionais busca a vinculação de património e ecomuseus a contextos e conceitos internacionais.

O património cultural faz parte do nosso cotidiano, observado na transmissão de expressões, saberes e hábitos. De geração em geração, fomos herdando referências culturais que evidenciam a diversidade cultural da humanidade: a música tocada nas nossas festas locais, a forma como produzimos o nosso pão, as construções tradicionais contempladas em diferentes localidades, a nossa espiritualidade, a medicina tradicional, o artesanato, etc. Esse património narra a nossa compreensão, como seres humanos, dos usos da cultura e da relação que estabelecemos com o meio natural.

Desde a década de 1970, a compreensão do patrimônio cultural vem mudando: do reconhecimento do património tangível referente a edifícios monumentais, estruturas de “pedra e cal”, ao património natural, meio ambiente, paisagens e património imaterial. A compreensão do património hoje é pactuada em diferentes perspetivas, observadas em documentos de consenso internacional, a maioria deles publicados pela UNESCO. As convenções enquadraram os conceitos de património, adotados por documentos internacionais específicos, a exemplo da Convenção sobre a Proteção do Património Cultural e Natural Mundial (UNESCO, 1972) e a Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (2003).

As instituições e entidades públicas têm procurado classificar o nosso património, de forma a facilitar a salvaguarda das referências culturais herdadas dos nossos antepassados. Segundo a UNESCO, estas são as definições atuais das três principais tipologias do patrimônio:

  • Património Cultural Material: “(…) inclui artefatos, monumentos, grupos de edifícios e locais, museus que têm uma diversidade de valores, incluindo a sua significância simbólica, histórica, artística, estética, etnológica ou antropológica, científica e social.” (UNESCO Institute for Statistics, 2009)
  • Património Cultural Imaterial: “(…) inclui tradições ou expressões vivas herdadas dos nossos antepassados e transmitidas aos nossos descendentes, como as tradições orais, as artes performativas, as práticas sociais, os rituais, as festividades, os saberes e práticas relativos à natureza e ao universo ou os saberes e competências para produzir o artesanato tradicional.” (UNESCO, 2003)
  • Património Natural: “refere-se a características naturais, formações geológicas e fisiográficas e áreas delimitadas que constituem o habitat de espécies ameaçadas de animais e plantas e sítios naturais de valor do ponto de vista da ciência, conservação ou beleza natural. Inclui áreas naturais protegidas públicas e privadas, zoológicos, aquários e jardins botânicos, habitat natural, ecossistemas marinhos, santuários, reservatórios, etc.” (UNESCO, 1972; UNESCO Institute for Statistics, 2009)

Os museus, espaços historicamente dedicados à salvaguarda do património cultural, também têm vindo a sofrer alterações nas últimas décadas. A emergência dos movimentos democráticos esteve também relacionada com as mudanças verificadas no papel dos museus nas nossas sociedades: de instituições tradicionais dedicadas à proteção de referências materiais da humanidade para instituições com um importante papel social relacionado com os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável. Os ecomuseus surgiram então em tempos de contestação, e suas referências hoje servem de orientação para a cultura e a sustentabilidade.

Seguindo os padrões internacionais, cada região do mundo também adota seus próprios documentos, para o estabelecimento de linhas de base para o desenvolvimento de projetos. No contexto europeu, duas convenções são mencionadas como referências para a avaliação das paisagens culturais, temas especialmente desenvolvidos pelos Ecomuseus: a Convenção Europeia da Paisagem (2000) e a Convenção de Faro (2005). É importante reconhecer esses documentos de referência para chegar a um terreno comum, manter o diálogo e aumentar a cooperação entre ecomuseus, sociedade civil, governos e organizações internacionais. As interconexões entre cultura e desenvolvimento também são percebidas pelo incentivo à diversidade cultural (Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. UNESCO, 2005) e pelo alinhamento dos projetos e instituições aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como será apresentado na próxima unidade. Os links para cada documento estão disponíveis para facilitar a compreensão da área de patrimônio cultural (ver referências abaixo, ao final desta unidade).

Fonte: Penna, 2018.

Como cada contexto poderia ser analisado considerando o quadro conceitual promovido pela UNESCO e outras instituições relacionadas? Quais são as principais referências culturais da sua comunidade? Você conseguiria elaborar um quadro geral do seu património material, natural e imaterial, depois de observar a paisagem cultural onde a sua instituição está localizada? Você poderia identificar o património material, imaterial e natural da sua comunidade? Essas e outras questões são importantes para iniciar o entendimento de sua comunidade e do seu território. Mapear o património local é uma questão fundamental para desenvolver ecomuseus, usando os recursos disponíveis para promover o desenvolvimento sustentável.

Nas últimas décadas, mudanças conceituais têm sido observadas nos setores de património e museus. O surgimento da ecomuseologia trouxe novas perspetivas para o património, entendido como um recurso para o desenvolvimento local. Nesse sentido, segundo Hugues de Varine (2002), a educação e o senso de responsabilidade desempenham um papel essencial na salvaguarda da diversidade cultural, quando as agendas de desenvolvimento passam então a ser ligadas ao património cultural, ao território, à paisagem, à memória, e aos estilos de vida dos habitantes. O património cultural torna-se uma questão central para a ação coletiva ligada à vida dos cidadãos. Se adotarmos uma gestão participativa, não só no uso do património, mas em estratégias para a sua identificação e promoção, podemos ampliar redes e envolver diversos cidadãos. (Varine, 2002).

Documentos Internacionais

Convention Concerning the Protection of the World Cultural and Natural Heritage (1972). Disponível neste  site.

Convention for the Safeguarding of the Intangible Cultural Heritage (2003). UNESCO. Disponível neste site.

Convention on the Protection and Promotion of the Diversity of Cultural Expressions (2005). Disponível neste site.

Declaration of Quebec (1984). Basic Principles of a New Museology. Disponível neste site.

European Landscape Convention (2000). Council of Europe Landscape Convention. Disponível neste site.

Faro Convention (2005). Council of Europe Framework Convention on the Value of Cultural Heritage for Society. Disponível neste site.

The Santiago Roundtable (1972). Programa Ibermuseus. Disponível neste site.

Recommendation concerning the Protection and Promotion of Museums and Collections, their Diversity and their Role in Society (2015). UNESCO. Disponível neste site.

Unidades de Aprendizagem 2

Engaging Communities: a Sociomuseological Approach to EcoMuseums

O que é um ecomuseu? Que diferenças você encontra entre museus tradicionais e ecomuseus? Como se estabelecem as relações entre os ecomuseus, as comunidades e a natureza? Como conectar as necessidades da sua comunidade a um projeto de ecomuseu? Os ecomuseus funcionam amplamente com base na participação local, como processos compartilhados de reconhecimento, gestão e proteção do patrimônio cultural e natural, visando promover o desenvolvimento sustentável de suas comunidades. Atualmente, o papel social dos ecomuseus também é abordado como tema central, fortalecendo o significado dos projetos para as comunidades locais.

Desde a década de 1960, diversas abordagens para ecomuseus foram adotadas. Essa diversidade é observada à medida que os desenvolvimentos regionais alimentaram possibilidades de gestão local do patrimônio por meio dos museus. O engajamento das comunidades é uma das questões-chave integradas ao desenvolvimento dos ecomuseus, considerando a diversidade de contextos regionais nos quais estão inseridos. Como entender as comunidades e o engajamento das pessoas considerando a diversidade de contextos de atuação dos ecomuseus? Na perspetiva dos ecomuseus, a ideia de comunidade está intimamente relacionada ao desenvolvimento local. A importância de identificar recursos locais e desenhar estratégias sustentáveis é essencial para o desenvolvimento das comunidades, fortalecendo a coesão social e estimulando as pessoas a se engajarem em agendas sustentáveis. A identificação das necessidades e expectativas locais facilita o desenvolvimento de projetos socialmente fundamentados e realistas, utilizando abordagens sociomuseológicas, e sempre com uma perspetiva participativa, como será discutido mais adiante no Módulo 4.

É importante abrir o caminho de debates por meio da apresentação das principais referências históricas para a construção do conceito de Ecomuseu, no que diz respeito à Nova Museologia e ao surgimento da Sociomuseologia (Moutinho, 2016; 2014). Os debates sobre Ecomuseus e Sociomuseologia são conduzidos com uma compreensão geral de como as experiências de base comunitária têm sido desenvolvidas, considerando a abordagem sociomuseológica em uma série de estudos de caso na América Latina e na Europa. As linhas de base estabelecidas pela Declaração de Santiago (1972) e o surgimento do Movimento Internacional por uma Nova Museologia (MINOM) na década de 1980 estimularam os movimentos sociais e as comunidades a promoverem as suas próprias iniciativas, os documentos da UNESCO e de outros organismos internacionais foram alimentados por essas experiências de campo, fortalecidas pelo desenvolvimento de políticas públicas desde a década de 1960 até os dias atuais.

Você consegue identificar diferentes experiências desenvolvidas por museus em sua região? Como os museus estão abordando as questões locais, o património cultural e as paisagens culturais? Como as comunidades estão envolvidas nesses processos?

As mudanças observadas na compreensão do património cultural também são observadas na compreensão dos museus. Se o entendimento tradicional dos museus se concentrava nas ideias de edifício, público e coleção, a mudança dos ecomuseus é observada no direcionamento do seu foco para o território, a comunidade e o património (Varine, 2002; 2006; 2017). Em 1972, em Santiago, Chile, a UNESCO e o ICOM promoveram a mesa-redonda de Santiago, abordando questões locais e questionando como os museus poderiam participar e coordenar esforços para promover o desenvolvimento local (Mesa-Redonda de Santiago, 1972).

Fonte: Apresentação por Leandro França. Departamento de Museologia, Universidade Lusófona, 2022.

Esta viragem conceitual tem sido alimentada por valores democráticos, que incentivam as comunidades a assumirem os seus patrimónios e a interpretação dos seus territórios, projetando o desenvolvimento social das localidades. A última recomendação da UNESCO relativa aos museus foi adotada em 2015, e o reconhecimento da função social dos museus assumiu-se como relevante para o desenvolvimento dos museus e das sociedades:

“Em todos os países é crescente a percepção de que os museus desempenham uma função chave na sociedade, e constituem um fator de integração e coesão social. Nesse sentido, eles podem ajudar as comunidades a enfrentar as profundas mudanças na sociedade, inclusive as que levam a um aumento da desigualdade e à dissolução de laços sociais. (…) Os museus são espaços públicos vitais que deveriam dedicar-se a toda a sociedade e podem, portanto, desempenhar uma função importante no desenvolvimento de laços sociais e coesão, na construção da cidadania, e na reflexão sobre as identidades coletivas.” (UNESCO, 2015. Art. 16 and 17).

Atualmente, o fortalecimento dos ecomuseus está ligado à promoção da diversidade cultural, considerando que “a diversidade cultural é uma característica definidora da humanidade” e “que a diversidade cultural cria um mundo rico e variado, que aumenta o leque de escolhas e nutre as capacidades e os valores humanos e, portanto, é a mola propulsora para o desenvolvimento sustentável das comunidades, povos e nações” (Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. UNESCO, 2005). Após a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em setembro de 2015, a valorização do património cultural passou a ser considerada relevante e estratégica para o desenvolvimento sustentável das comunidades. Os ecomuseus podem ser protagonistas desse processo, ao abordar questões locais no tempo presente e vislumbrando um futuro sustentável.

Fonte: Apresentação do Prof. Mario Moutinho. Departmento de Museologia, Universidade Lusófona, 2022.

Pelo menos duas abordagens podem ser utilizadas para os primeiros passos do desenvolvimento do ecomuseu: o mapeamento do patrimônio local, considerando o património natural, material e imaterial; e a identificação de problemas locais, necessidades e aspirações das comunidades. Todo esse processo deve ser orientado para a vida das pessoas, pois os museus são instituições ao serviço do ser humano e das sociedades (Moutinho & Primo, 2017). A identificação das necessidades e dos problemas locais, se discutidos democraticamente, promoverá o ecomuseu como local de encontro para o desenvolvimento territorial.

Como identificar estratégias e responder às necessidades locais com a utilização dos recursos patrimoniais? Como compreender o património de sua comunidade como recurso para o desenvolvimento social? É importante manter processos democráticos de mapeamento e identificação do património de suas comunidades. A gestão consciente do património local pode ser apontada como uma questão-chave para a resolução dos problemas locais e para a promoção do desenvolvimento sustentável. Como você pode promover essas questões em sua comunidade? Todas estas questões serão aprofundadas e desenvolvidas numa perspetiva prática apresentada nos módulos 2 (Ecomuseus & Sustentabilidade), 3 (Planear, iniciar e sustentar o Ecomuseu) e 4 (Participação e cidadania ativa. Processos participativos.).

Unidades de Aprendizagem 3

Viver no Território: Ecomuseus orientados para a Vida

Uma análise contextual aprofundada é essencial para o desenvolvimento dos ecomuseus. Para tal, é necessário compreender o território, o património local e as necessidades dos cidadãos. O que se entende por território? Como identificar um território, considerando os seus bens culturais? Como interligar as necessidades dos cidadãos ao património cultural? O ecomuseu é um espaço de encontro das diversas perspetivas presentes nas comunidades, atuando como um fórum de debates democráticos sobre a função social dos museus para o desenvolvimento sustentável.

O território é um dos três pilares dos ecomuseus. É aqui entendido como uma paisagem ligada a um conjunto de cidadãos e populações, que possuem referências culturais herdadas, e relativas à utilização de recursos locais. O território converge o tempo e o espaço, fontes naturais e culturais, retratando

a natureza em sua imensidão, mas também com adaptações das sociedades tradicionais e industriais às suas próprias imagens. Ele (o ecomuseu) é uma expressão do tempo, quando as explicações que oferece remontam a épocas anteriores ao aparecimento do homem, seguem o curso dos tempos pré-históricos e históricos e chegam finalmente ao presente. O ecomuseu oferece também perspetivas de futuro, sem pretensões de tomada de decisão, sendo a sua função antes informar e analisar criticamente. É uma interpretação do espaço – de lugares especiais para parar ou passear. (Rivière, 1985).

 

Cada território tem problemas específicos a serem enfrentados pelos habitantes locais. Os bens culturais podem servir como recursos valiosos para o trabalho comunitário com foco nas respostas às questões locais. É importante identificar os problemas e as questões a serem abordadas pelo ecomuseu, considerando que a sua função social está relacionada ao desenvolvimento local, evidenciado pelos valores democráticos do património e da diversidade cultural. As ferramentas participativas são muito valiosas para este processo democrático – desde as discussões de questões locais até os processos de tomada de decisão para desenhar estratégias para o desenvolvimento local, como será discutido mais adiante no Módulo 4.

Algumas das ferramentas desenvolvidas para mapear o património cultural em territórios específicos são baseadas na educação patrimonial: Observação, Registo, Exploração e Apropriação são exemplos destes processos (Grunberg, 2007). A observação baseia-se em meios sensoriais para identificar as principais referências culturais, utilizando a visão, o olfato, a audição, o paladar e o tato para o mapeamento do património cultural. O registo utiliza desenhos, descrições verbais, mapas e outros meios lógicos e intuitivos. A exploração baseia-se na análise das referências culturais identificadas através da discussão pública. Por fim, a apropriação está relacionada ao uso da criatividade para expressar o património cultural por meio de teatro, música, pintura, filmes e outras ações artísticas.

O ecomuseu pode fornecer às comunidades soluções para as questões dos territórios locais, considerando o desenvolvimento econômico, social e cultural – ou seja, soluções sustentáveis para o uso de água e energia; promoção da paz em zonas de conflito; promoção de oportunidades econômicas para empreendimentos locais, considerando produção artesanal, atrações turísticas, produtos locais; o reforço da inter-relação com as escolas, em estreita colaboração para o desenvolvimento de ações educativas; promoção de manifestações e festividades locais; a atuação como um espaço aberto para reuniões comunitárias etc.

Você consegue identificar algumas questões locais e problemas sociais a serem abordados pelo ecomuseu? Como pode o ecomuseu cooperar localmente para o desenvolvimento territorial? Como você vê o ecomuseu como um hub para reunir diversas pessoas e comunidades, para a construção de redes e para o desenvolvimento de projetos de cooperação?

Uma perspectiva interessante a ser desenvolvida pelos ecomuseus é a compreensão da potência e da poética da cidadania para os museus que servem para a vida (Chagas, 2007; 2010). Os ecomuseus devem acolher as necessidades das sociedades, privilegiando os valores democráticos, a diversidade das expressões culturais e o desenvolvimento sustentável. Os museus devem servir à vida e à sociedade, e os ecomuseus comprometidos com o desenvolvimento sustentável devem adotar posturas diversificadas para enfrentar as questões contemporâneas, respeitando as necessidades locais e visando sociedades justas e com bem-estar.

Você identifica algo semelhante desenvolvido em seu ecomuseu? Como explorar essas ferramentas para abordar o território e potencializar ações educativas para a promoção do património cultural? Você consegue identificar questões locais e traçar estratégias com base nos recursos culturais encontrados em seu território e na sua comunidade?

A organização da informação disponível enriquecerá cada projeto desenvolvido pelos ecomuseus, partindo da ideia de identificar os problemas locais e analisar como se pode responder aos problemas observados no território local. Os próximos módulos apresentarão uma perspetiva prática com ferramentas e estratégias específicas para vincular os ecomuseus aos ODS, planejamento estratégico para o desenvolvimento dos processos museais e diagnósticos territoriais para a gestão participativa.

Some examples of old and new issues in heritage management. Source: Penna, 2018.
Número de horas de dedicação6 horas (2 horas por unidade).
Nível EFQNível EFQ: 3

Bibliografia

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Chagas, M. (2010). Museums, memories and social movements. In. Sociomuseology IV, Cadernos de Sociomuseologia, Vol 38.

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Coordenadores Científicos